Em tempos de um contexto marcado por uma perspectiva na qual o ser humano é descartável, vivemos relações que refletem um perspectiva mercadológica centrada no lucro, isto é, relações que se estabelecem a partir do que podemos ganhar. Na Encíclica Laudato Si’, o Papa Francisco nos apresenta a preocupação com o modo como a humanidade vive hoje sob o poder tecnológico. O ser humano se tornou um mero objeto a ser possuído, dominado e consumido pelo poder.
Diante dos desafios, somos chamados a nos colocar no processo de reinvenção do cotidiano. Para tanto, é necessário ter cuidado com a vida, respeitar o próximo e, principalmente, cuidado com as futuras gerações. Por isso, ter esperança, ou esperançar, é ter iniciativa, é ir ao encontro, é buscar ouvir os que mais precisam.
Mas, e quem luta por nós e nos faz protagonistas de nossa história? Seríamos sobreviventes de um mundo desigual em que o lucro é, acima de tudo, o bem mais importante, permeando todas a relações? As perguntas são várias, mas a certeza é uma: estamos interligados, como em uma grande rede.
Nossa vida se pauta em comprar ou não e assumir uma posição econômico-social. Nas condições atuais, o desenvolvimento moderno e sua tecnologia não nos deixam mais ficar isolados do mundo, por isso, é necessário mudar! É preciso olhar para a forma como tratamos nossos bens e vista de uma relação de cuidado, em uma ética do cuidado, pautada no bem comum e no bem da ecologia.
Papa Francisco se preocupa com a Mãe Terra e, na Carta Encíclica Laudato Si’ n. 23, afirma: “A humanidade é chamada a tomar consciência da necessidade de mudanças de estilos de vida, de produção e de consumo, para combater este aquecimento ou, pelo menos, as causas humanas que o produzem ou acentuam.”
Com o atual modelo de produção e consumo, o planeta tem sofrido, criando entre outras coisas um desequilíbrio que compromete o clima e todo o ecossistema. Por isso, a mudança deve ocorrer de forma concreta. Devemos observar a condição de seres humanos como responsáveis e não como usurpadores em busca apenas dos benefícios, em todas relações que estabelecem, sejam elas com os bens naturais ou com outras pessoas.
Na Laudato Si’ n. 78, Francisco assevera: “Se reconhecermos o valor e a fragilidade da natureza e, ao mesmo tempo, as capacidades que o Criador nos deu, isto permite-nos acabar hoje com o mito moderno do progresso material ilimitado.” Ou seja, é necessária uma intervenção nas ações humanas já! Não podemos deixar que a nossa Mãe Terra seja devastada e percamos os bens naturais que nos foram dados.
É preciso, urgentemente, se fazer ouvir e articular o maior crescimento da consciência humana sobre o que é ser humano. Para tanto, é preciso se comprometer com o próximo e não somente se preocupar com o nosso próprio bem-estar. A partir desta concepção, devemos observar na realidade o que temos de bom e como tratar o outro, como ser amigo e acolhedor em momentos de dor e perda como o que vivemos agora com a pandemia da Covid-19.
Jesus deve ser o exemplo a ser seguido, pela sua ética, refletida no seu comportamento, costumes, hábitos, caráter, modo de ser e de agir. Jesus assumiu uma conduta autêntica em uma sociedade contrária a tudo que ele pregava. Ele veio transformar o mundo, a começar pela sociedade onde estava inserido; desejava fazê-la refletir e mudar seu posicionamento frente ao legalismo exacerbado. Assim, tratar o próximo com respeito é fazer valer o amor criador de Deus e sua proposta de vivência para o ser humano.
É preciso cultivar o caminho ético. Que a nossa conduta moral seja pautada pelas regras aplicadas no cotidiano e que devem ser respeitadas por cada um, principalmente, neste período de distanciamento e isolamento social. Assim, compreendendo a realidade vivida e o respeito a todos e à Mãe Terra, teremos condições de deixar um bom legado aos que estão por vir e às futuras gerações: pessoas melhores para um mundo consequentemente melhor.
Para tanto, é preciso se comprometer com a cultura do encontro e do diálogo para que possamos nos comprometer com a vida de cada um e ser solidários. Dotados dessa responsabilidade, é urgente pensar que os projetos de formação para o humanismo solidário no qual o foco principal seja a ação consciente de cada um na construção de uma educação para o humanismo solidário, com a verdadeira inclusão de todos nesta realidade.
Refletindo nesse contexto, precisamos observar o caminho que seguimos e os exemplos que podemos dar em nossa realidade. Entre eles, é preciso sempre alimentar o desejo de uma sociedade mais humana e exercitar o amor ao próximo por meio de gestos de solidariedade.
Um “mundo novo” só será possível se formos construtores de uma mudança em nós mesmo para chegarmos a um novo olharmos à realidade que vivemos. A realidade da pandemia se tornou uma oportunidade de superar as dificuldades, se colocar a escutar o próximo e ser mais humano em nossas ações. Desta forma, que seja possível um novo mundo e que nos dê oportunidade para criar esperança e gestar uma realidade nova, com novos projetos e um outro jeito de viver, mais humano, mais ético e solidário. Jesus, sendo ético e verdadeiro, propagou a mudança necessária para sua época e nos inspira até os dias atuais, dando luzes para esta caminhada.
Por isso, cuidar do outro, assumir uma postura de escuta e a viver o encontro são as bases para relações livres, respeitosas e solidárias. Não podemos fugir a realidade de uma sociedade que se preocupa somente com ganhos financeiros e outros benefícios egoístas, mas dentro desse contexto somos chamados a se colocar como aqueles que escutam e servem, assim como Cristo fez.